27 de junho de 2007

Entrevista de Arquivo à TVGuia - 19-12-2005

O Herman tem 51 anos. Ainda vai a tempo de casar e ser pai ?
Aos 51 anos vai-se a tempo de tudo. O homem tem essa felicidade, em contraponto à mulher que – tal como as bailarinas e os futebolistas – estão sujeitas a um limite temporário muito estreito para viveram as alegrias da maternidade. Pessoalmente, sinto-me cada vez mais feliz como homem livre e celibatário, sem quaisquer responsabilidades. É um direito que me arrogo. Há quem considere egoísmo. Para mim, mais egoístas são todos aqueles que trazem filhos ao mundo só para os exibirem como troféus.

Já escreveu algum testamento?Se não tiver filhos, a quem é que deixa o seu património?
Lamento informá-los, mas à velocidade a que eu vivo a vida, e gasto dinheiro, só vou deixar dívidas. É uma das vantagens de não ter o ônus de garantir o futuro de ninguém. Não me convém é morrer depois dos 100, porque, segundo as minhas contas, a minha falência técnica dar-se-á por volta do ano 2050, ano em que celebrarei o meu 96º aniversário. Restam-me a consolação de, enquanto houver falta de mão-de-obra e loiça para lavar, não faltarem restaurantes para me dar trabalho na copa.

Consegue avaliar o seu património e, nesse sentido, considera-se milionário ?
O meu património todo bem vendido não chega para a entrada de um avião igual ao do Júlio Iglesias (Gulfstream G5) acham que uma situação destas se pode considerar riqueza? Não brinquem comigo! Em chamo-lhe miséria franciscana!

Não se consegue enriquecer no nosso país?
Depende do conceito de riqueza. Do ponto de vista das emoções é fácil ser-se milionário. Em Portugal é possível viver de todas; desde os sustos que já nem no terceiro mundo se usam, às maiores alegrias do mundo civilizado, esta é uma terra que nos proporciona o melhor e o pior de todos os mundos. Quanto ao lado material, terão de fazer a mesma pergunta ao Jardim Gonçalves, ao Américo Amorim, ao Francisco Balsemão, ao Belmiro de Azevedo e ao Ricardo Salgado, que melhor do que eu vos saberão pôr ao corrente das possibilidades de viver alegrias económicas em solo luso.

Quem é o seu braço-direito para os negócios?
Felizmente muitos e bons. Os meus sócios da Herman Zap Produções, os meus advogados, o meu gestor e ainda alguns amigos que fazem o favor de me estimar e dar o litro para que as coisas corram bem.

Se lhe fosse lançado o desafio de viver com 350 euros por mês, o que faria com este dinheiro?
Essa pergunta tal e qual está feita é impossível de responder. Mas iria ser seguramente um desespero. Sou responsável pelo pagamento de ordenados a cerca de 50 famílias. Antevejo que seria uma grande catástrofe, com direito a abertura de telejornal e tudo! O mais certo seria gastar 350 euros na compra de uma boa faca para cortar os pulsos.
O Tormento Casa Pia

Para si, já acabou o pesadelo da Casa Pia ou não fica descansado enquanto houver um português que desconfie que esteve envolvido?
Os boatos que sobre mim corriam antes de ser envolvido no processo Casa Pia eram muitos e fatais. Felizmente que três anos depois, pude – com a ajuda da Justiça Portuguesa – dissipar todas as dúvidas e calar todas as maldades.

Disse que não falava do assunto enquanto fosse arguido. Agora que está “livre”, o que lhe apetece dizer de sua “justiça”? Acha que foi vítima de alguma cabala montada pelos seus inimigos?
Acho que me aconteceu o mesmo que a centenas de figuras públicas pelo Mundo fora. A nossa excessiva visibilidade sujeita-nos a todas as efabulações. Não foi a primeira vez que me aconteceu, nem terá sido a última. Por isso é que defendo um sistema judicial forte e implacável. A verdade vem sempre ao de cima. Basta confiar nos seus agentes e dar tempo ao tempo. As mentiras, por muito bem elaboradas que sejam, têm as pernas curtas. Os juízes portugueses sabem isso melhor do que ninguém.

Vai processar alguém por difamação?
Sou dos poucos ex-arguidos do processo Casa Pia que não tem razões de queixa. Fui tratado pelas duas magistradas do Ministério Público com que contactei com a maior elevação. O público nunca me abandonou, nem pôs em causa a minha inocência. Os meus empregados estiveram de pedra e cal a meu lado. Os meus espectáculos estiveram sempre cheios. Estou mais preocupado em apoiar a minha mãe, verdadeira grande vítima destes quase três anos negros, e recuperá-la da grande tristeza em que mergulhou. É muito duro ser-se viúva, mão de filho único, e ver quem se ama ser arrastado para a mais pesada das lamas.

A sua mãe conseguiu manter a calma ou sofreu com as notícias dos jornais?

Valeu-se da sua grande fé, e foi nela que encontrou apoio.

Quando é que foi a última vez que falou com o Carlos Cruz?
Ao telefone, há mais de dois anos, agradecendo-me o facto de ter levado a Marluce, a Raquel e a Marta e o Martim ao HermanSic. Na altura, eu ainda não tinha sido constituído arguido no processo.

Penim e SIC
Depois de tudo o que foi dito publicamente por si e Francisco Penim, há condições para continuar na SIC após Dezembro de 2006?
O Francisco Penim é meu convidado no primeiro HermanSic de 2006, que irá para o ar no domingo, dia 8 de Janeiro. Será uma boa maneira de avaliar o estado das nossas relações, dissipar todas as dúvidas e dar a perceber se eu tenho ou não condições para continuar a trabalhar no canal.

O Director de Programas já lhe disse claramente pretender um novo programa de humor?
É o drama de ter um fã como directo de Programas. Por vontade dele, eu entrava no estúdio às nove da manhã e só saía de madrugada, de segunda a sexta, com o fim de semana para escrever. Esquece-se de que sou um senhor de uma certa idade, e com uma paixão obsessiva pelo formato Talk Show. Pode ser que o ano de 2007 nos traga surpresas...por enquanto, continuaremos evoluindo na continuidade e lutando com o maior brio e profissionalismo.

Como interpreta Penim quando ele diz que “quero voltar a ver o Herman como estava habituado”
É a sua função abanar a estação e as suas vedetas e funcionar como catalizador de talentos. Os resultados começam a ser surpreendentes, apesar de não terem visibilidade imediata. A sua expectativa de “Herman ideal” é muito alta. Mas entre a actual e a sua, há compromissos interessantes que se podem conseguir.

Não se sente ofendido com Francisco Penim quando ele diz que os convidados do seu programa não interessam nem “ao Menino Jesus”?

Aqueles que se podem sentir ofendidos são os visados. Não se admirem se os virmos em breve numa manifestação à porta de Carnaxide empunhando cartazes “Penim para a rua, a luta continua” com a Linda Reis, o Alexandrino e a Cindy Scrash à cabeça!

Disse no passado que a televisão é uma máquina de queimar. No presente, sente que a SIC o queimou?
De maneira nenhuma. Tudo o que fiz foi com convicção e alegria. Devo à SIC e ao seu extraordinário patrão, garante máximo de liberdade e espírito criativo, os melhores momentos da minha vida!

Tem saudades de Manuel Fonseca?
Felizmente nenhumas. Jantei com ele uma destas terças-feiras nos Bastidores do Café Café e matei-as. Está sereno, feliz, pronto a abrir outra etapa na sua vida ligada à ediçao de livros e a torcer honestamente pelo futuro do canal onde passou treze anos inesquecíveis da sua vida.

Se soubesse o que sabe hoje, teria saído da RTP?
Sem vacilar. Tive razões fortíssimas para sair da RTP no ano de 1999. E não foram de dinheiro, foram de alma, como oportunamente transmiti ao seu presidente, Engenheiro Brandão de Brito, de quem guardo as melhores recordações. Não escondo que o grande culpado da mudança foi o entusiasmo contagiante do inesquecível Emídio Rangel.

Televisão e Carreira
Como é que define a sua relação, hoje em dia, com a TV?

A TV é para mim uma paixão, é o ar que respiro, é a única razão que me arranca de casa com alegria e convicção.

Era capaz de deixar a televisão para enverdar por uma outra carreira?
Há um sítio onde me sinto bem. Nos Bastidores, a fazer espectáculos e a receber amigos. Será sempre uma maneira de – mesmo afastado dos ecrãs – nunca me divorciar completamente de quem gosta de mim.

Não gostava de ser director de Programas de uma televisão?
Jamais. Muito pouca gente está em condições de aguentar uma tareda dessas. Há que ter coração granítico, nervos de aço e uma relação quase doentia e apaixonada com o meio TV.

Que descrição faz dos três responsáveis de programação : Nuno Santos, Francisco Penim e José Eduardo Moniz...
O Nuno é um leão. Aparentemente pachorrento, calmo, mas capaz das mais surpreendentes corridas e lutas quando chega a altura de reagir. O Penim é uma águia. Sempre em voo, visão apurada e um instinto nato de oportunidade. O Moniz é um tubarão. Forte, atento, insaciável e fascinante.

Falou de uma eventual incursão profissional no estrangeiro. Que país estaria no topo das suas preferências e o que faria por lá?
Passei parte substancial da minha vida a trabalhar. Faltam-me viver muitas experiências: perder-me pelas ruas de Nova Iorque, sem voo de regresso marcado, falta-me ir a um casting para uma peça na Broadway, falta-me atravessar a Austrália de ponta a ponta, falta-me ir à Nova Zelândia conhecer os cenários do Lord Of The Rings, falta-me fazer um reconhecimento na Alemanha, dos muitos sítios onde tenho ascendência, faltam-me tirar um curso de cozinha em Paris, falta-me fazer uma tournée gigante pelos nossos emigrantes que não param de me solicitar, falta-me conhecer as Áfricas, falta-me atravessar o deserto de jipe Hummer, com blinis, caviar e Louis Roederer Cristal na arca, falta-me ir até ao Brasil aceitar os convites dos muitos amigos que vou fazendo por lá, falta-me navegar no Mediterrêneo de Maio a Outubro, nas Caraíbas de Novembro e Abril...Chega?

Não ter carreira internacional continua a ser a sua maior frustração ?
Claro que sim. Cada vez dói mais. Num espaço de meses estive sentado ao lado do Tom Cruise (na peça Hairspray) e da Goldie Hawn (na peça Spamalot). Nos dois casos não pude chegar ao pé deles e dizer “olá rapaziada sou vosso colega, tudo bem? Bora aí beber um copo?” Querem maior frustração?

Nesta altura, ainda pode trazer algo de novo à televisão portuguesa?

Em televisão está tudo inventado. Reinventa-se, não se inveta. A minha maior preocupação é trazer muito de novo e de excitante à minha vida. Esse sim, é o meu maior objectivo.

Sente-se ultrapassado pela nova geração de humortistas e, ao mesmo tempo, orgulhoso de ter servido de inspiração?
Não me sinto ultrapassado, mas invejo-lhes a convicção e o facto de viverem numa época tão rica. Eles não sonham o que era escrever textos numa máquina de escrever, ou ter de fazer a viagem Lisboa-Porto sem auto-estrada.

Em que fase da sua carreira é que situa o melhor “Herman”?
Está para vir. Arranca em 2007

O Passado e o Futuro
Porque é que diz que vai ser um velho insuportável?

Tenho pavor de morte! Adorava morrer a dormir num dia de Inverno com a lareira acesa e cheiro a “Ambre du Nepal” no ar de Maitre Parfumeur et Gantier Jean François Laporte (o mesmo aroma do Ritz/Pariz), ao som do Adagietto da quinta sinfonia do Gustav Mahler. Quanto ao facto de ser ou não insuportável – como vêem, não foi preciso chegar a velho!

E vai mesmo apalpar os rabos das miúdas?
Isso é que talvez não. De maneira como as coisas estão, e depois de ver o susto que o Cristiano Ronaldo apanhou, vou optar opr um comportamento mais discreto.

Afinal é ateu ou acredita em Deus?
Até prova em contrário, não acredito em coisa alguma. A existir Deus, não lhe admiro o trabalho. O nosso planeta e a humanidade que lhe foi distribuída, estão cada vez pior. A menos que Ele esteja dedicado a outros sistemas solares. Nesse caso, está desculpado.

Ainda mantém contacto com alguma ex-namorada?
Não falo da minha vida privada, lamento. Não por mim, mas pelas pessoas envolvidas, que não têm vida pública e têm direito à sua privacidade.

E com a famosa Graça Chaínho, com quem lhe quiseram arranjar casamento?
A Graça está no Brasil, há mais de dez anos. Nunca mais soube nada dela. Ninguém nos quis “arranjar” coisa alguma. Nós é que chegámos a pensar juntar os trapinhos. Ainda bem que não o dizemos. Teria sido Sol de pouca dura.

Portugal e a falsa Democracia
Porque é que está zangado com Portugal ao ponto de afirmar que no nosso país não é possível ser-se um marido, pai e cidadão ideal?
Não me lembro de ter dito isso. O que eu tenho reafirmado mais do que uma vez, é de que em Portugal, Abril ainda não se cumpriu. Temos uma falsa democracia, ainda inquinada por muitos tiques que herdámos de cinquenta anos de ditadura mesquinha e sem visão de futuro. Não posso deixar, no entanto, de me congratular com os passos de gigante que estão a ser dados por este Governo, que talvez por sair dum partido que sentiu na pele as disfunções do nosso (alegado) estado de direito, acordou para o facto de ter de arrumar umas “gavetas” que , por preguiça ou falta de coragem, nunca foram abertas. Apesar de tudo, estou muito optimista quanto ao futuro do nosso País.

Mostra por vezes desânimo face ao estado da Nação. Vai votar nas próximas eleições presidenciais?
Sou cidadão alemão, por isso não voto.

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