24 de abril de 2007

Entrevista à TV 7 Dias


TV7Dias: Disse que “isto não pode correr mal”, referindo-se ao Hora H. Contudo, parece que tudo corre mal. As audiências são baixas, as críticas
São mordazes e a equipa sofreu rupturas. O que mais pode piorar?

Herman Jose: Não sei se habitamos o mesmo país , mas lamento informar que na semana passada o Hora H voltou a passar a fasquia do meio milhão de espectadores, apesar do horário tardio, e há duas semanas foi líder no horário e teve um share mais alto do que o do próprio canal – que ganhou o dia. Além disso, o feedback do mercado dos espectáculos ao vivo começa a reivindicar a Chica Pardoca, o Júlio Flores e o Raposinho Pinto. Posso garantir-vos, dez semanas passadas, que o programa está a ganhar contornos de programa de culto. Basta navegar pelo Youtube.
TV7Dias: Confessou que “se a montanha parir um rato, sentirei uma tristeza profunda”. Está triste com tudo o que se tem falado em torno deste programa?
Herman José: Ao princípio, fiquei obviamente triste. Agora, sinto-me uma criança feliz com um brinquedo novo, no que sou acompanhado pela Direcção de Programas, o que me dá uma grande alegria.
TV7Dias: Foram muito faladas a demissão de Maria Vieira e a ausência de Vítor de Sousa. Faria tudo igual?
Herman José: Vamos, então, repor a verdade: O Vítor de Sousa não se demitiu, uma vez que nunca foi convidado; o Joaquim Monchique também não se demitiu, porque não chegou a ser contratado,pois tinha outros planos para o seu futuro, que passavam por partir para uma experiência teatral complicada; e, finalmente, a Maria Vieira (que muito estimo) nunca se enquadrou no espírito do programa, pelo que a sua demissão foi prontamente aceite, para grande alívio dos que diariamente lidavam com o seu mais que compreensível sofrimento.
TV7Dias: Vítor de Sousa confessou ter ficado com uma grande mágoa, mas que com o tempo passará; com a Maria Vieira o cenário parece mais negro: a actriz tem aproveitado todo o tempo de antena para lançar farpas ao Herman.
Herman José: A Maria está a aproveitar (e muito bem) o facto de ter estado deitada durante algumas semanas numa personagem em que não se revia. Deu a volta pela positiva, como sempre fez, até no rescaldo da doença que lhe ia custando a vida.
TV7Dias: As críticas mais fortes ao Hora H prendem-se com a qualidade dos textos, que muitos dizem ser idênticos a outros programas do Herman. Mais: dizem que a falta de mão do Herman nos textos é a principal causa para os fracos resultados. Já pensou nisso?
Herman José: A acusação é injusta, falsa e repetida. Aconteceu o mesmo há dez anos com o Herman Enciclopédia. Todas as letras de cantigas do CNN Memória são de minha autoria e interfiro muito com o processo criativo, que está assente numa equipa de autores de grande talento.
TV7Dias: Já falou com o Francisco Penim sobre a possibilidade de mudar o horário ou mesmo o dia de exibição?
Herman José: Estamos sempre em contacto. O Francisco não é dono da SIC, é parte integrante de uma estrutura complexa. A programação de um canal comercial está dependente de um conjunto de vectores muito intrincados e técnicos, que não se compadecem com favores, compadrios, prestígios ou simpatias.
TV7Dias: Que feedback tem tido da SIC?
Herman José: O melhor. São (a seguir à minha mãe) os maiores fâs do programa. Pessoalmente (e sem desprimor para as anteriores direcções) nunca me revi tanto num projecto SIC como hoje. Talvez porque a luta está mais renhida e profissional do que nunca. O Moniz é um “leão” e o Nuno Santos é um “santo milagreiro”. É bom lutar contra adversários que se respeita e admira.
TV7Dias: Já pensou bater com a porta, dizer: “Não preciso disto para nada?” Ou é por ter uma equipa que depende de si que o faz aguentar-se?
Herman José: Só quem não me conhece é que pode pensar assim. Eu alimento-me das dificuldades, da inquietação, da provocação! É isso que me faz crescer! Pobre de mim se um dia descansar à sombra das facilidades. Aliás, só se dá valor a uma primeira classe da BA para Nova Iorque e uma semana numa suite do Saint Regis, depois de se fazerem 400 km para dar um espectáculo em Trás-os-Montes!
TV7Dias: Depois de Hora H vai fazer um período sabático, empenhando-se mais nos negócios… que não parecem correr bem? Como vão os restaurantes?
Herman José: Os restaurantes nunca foram um bom negócio. Confesso que não passam de um passatem caro. Mas, como não jogo e não me drogo, ainda me chega e sobra para as suas vicissitudes.. O meu grande negócio foram, são e serão, os espectáculos ao vivo, as minhas apresentações de empresas, as minhas tournées à Diáspora esgotadas com meses de antecedência. São a coluna vertebral da minha vida e a forma de arte que mais prazer me dá. Sou bem capaz de sofrer da síndrome Jerry Seinfeld, que desistiu de um contrato milionário na televisão, para se dedicar aos espectáculos.
TV7Dias: O Herman tem amigos verdadeiros, daqueles que nunca vão para os jornais contar coisas menos boas?
Herman José: Tenho mais do que imaginava. Uma das vantagens do (lamentável) processo Casa Pia foi ter chegado à conclusão que tinha bons amigos onde não imaginava ter. Em termos humanos a minha vida ficou mais rica. Nesse aspecto estou de acordo com aqueles crentes que dizem que “Deus não fecha uma janela sem que abra logo uma porta”! No meu caso, abriu um portão daqueles grandes – de quita! (risos)
TV7Dias: Ainda tem prazer naquilo que faz profissionalmente na televisão?
Herman Jose: Reganhei um prazer que tinha quase perdido. O nosso ambiente de trabalho parece um jardim infantil, de tanto que se grita, se pula e se ri. E devo dizer que estou orgulhoso de voltar a descobrir o “velho Herman actor”que tantos julgavam perdido – até eu!
Há dias chorei a rir comigo, pela primeira vez de há muitos anos para cá, com o sketch do Homem Estalinho. Pode ser visto no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=Il56LNvIJT4.
TV7Dias: Ainda se sente o “verdadeiro artista”?
Herman Jose: Em arte não há pódios. Mas, a haver, o primeiro lugar teria de ser dividido (a uma grande distância de todos nós) pela dupla Vasco Santana e António Silva.Em segundo lugar, ficava o único génio da minha geração: Mário Viegas.O terceiro lugar compartilhava-o com um belo grupo de artistas, do eterno Nicolau, passando pela genial Maria Rueff, aos surpreendentes Gato.
Em relação ao Globo De Ouro que recebeu :
"Fiquei muito imressionado com a força das palavras do Francisco Pinto Balsemão. Foi uma estalada de luva branca a uma quantidade de gente, que insiste em não ter memória. Foi também uma forma de repor a verdade das coisas. Se antes de o ouvir tive dúvidas em relação prémio, depois do seu discurso emocionado mudei radicalmente de opinião. Peço desculpa pela imodéstia, que não me fica bem, mas acho, sinceramente que o mereci. Só espero ter direito a outro daqui a 20 anos”

1 comentário:

Vítor disse...

tirando as primeiras questões pareceu-me ser uma entrevista interessante. quanto a essas mesmas perguntas não entendo porque raio os jornalistas continuam a bater na mesma tecla.